Equilíbrio Climático e Resíduos Sólidos
Todo o processo de produção de bens de consumo e pós-consumo gera gases de efeito estufa – GEE direta ou indiretamente, a exemplo de materiais biodegradáveis, como produtos de papel, sobras de alimentos e podas enviados para os aterros sanitários (ou ilegalmente para depósitos a céu aberto, os chamados lixões), como o gás metano, que é mais prejudicial que o CO2.
Esses impactos poderiam ser facilmente reduzidos se os resíduos orgânicos fossem destinados a um tratamento, como a biodigestão ou a compostagem em pequena escala e/ou sob outras modalidades (comunitária, domiciliar, etc).
Há um consenso generalizado em nível mundial que os benefícios climáticos de prevenção da geração de resíduos superam os benefícios de qualquer tecnologia de tratamento de resíduos.
Como o Resíduo Zero pode ser incluído nas Políticas de Mudanças Climáticas?
A visão setorial tradicional das emissões de GEE encontrada nos inventários nacionais não contemplam os resíduos de uma forma mais profunda, pois as ações se concentram principalmente na redução de transporte e de energia. Mas, as emissões do setor de energia são decorrentes da energia usada para extrair, processar e fabricar produtos que, em algum momento se tornam resíduos, que são enquadrados nas categorias energia, transporte e indústria.
O IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática) divide as emissões dos países em 5 setores (Agropecuária, Energia, Mudança do Uso da Terra, Processos Industriais e Resíduos). Nas emissões relacionadas ao setor de resíduos estão basicamente as emissões pela disposição final dos resíduos sólidos e as emissões de saneamento básico. Infelizmente essa forma de divisão não dá ideia do quanto de fato a geração de resíduos impacta em termos de emissões de GEE. Isso porque todas emissões que seriam evitadas gerando menos resíduos tem interfaces claras em todos os outros setores. Desde o desperdício de alimento no campo (Agropecuária e Mudança Do Uso da Terra), o uso intensivo de plásticos e o transporte de resíduos e materiais (Energia) e a produção intensa de produtos que tem sua necessidade questionada (Processos Industriais) geram emissões, porém com uma política de resíduo zero também teriam reduções significativas e poderão passar a ser melhor contabilizadas sua redução. Os catadores e suas cooperativas, por exemplo, tanto no Brasil quanto em outros países de nações de economias periféricas, dão uma contribuição significativa para a redução de emissões de gases de efeito estufa, mas geralmente ignorada nos estudos de avaliação das mesmas. Contribuem ao recuperar materiais recicláveis que seguem para a reciclagem, o que reduz a extração de recursos naturais, uso de energia e água, impactando menos na cadeia das emissões.
Uma abordagem sistêmica de manejo de resíduos tem consequências positivas para as emissões de GEE da energia, silvicultura, agricultura, mineração, transporte e setores da indústria transformadora. Isso significa que a forma com que as nações, Estados e empresas, fazem suas escolhas tem um impacto maior do que a eletricidade que consumimos ou o combustível que usamos. É preciso uma nova abordagem, que lide com todos os aspectos, desde a extração dos recursos naturais, sua produção, transporte e reutilização (isso vale para a cadeia dos alimentos também). As estimativas das emissões de GEE com base nas práticas de gestão de resíduos tendem a basear-se em métodos de Avaliação do Ciclo de Vida do produto (ACV). Estudos de ACV forneceram análises extremamente úteis dos impactos climáticos potenciais e benefícios das várias opções de gestão de resíduos. Essas análises devem garantir a comparação entre os diferentes tipos de materiais utilizados para permitir a escolha de que embalagens, por exemplo, são mais adequadas do ponto de vista ambiental. É desejável que estas análises e avaliações sejam realizadas por empresas em que não haja conflito de interesses e sejam transparentes.
Com essa abordagem, podemos ver o enorme impacto das emissões de GEE e como “Ações Resíduo Zero” terão impactos positivos diretos na luta contra as mudanças climáticas como, por exemplo, reduzindo o consumo, o setor privado se responsabilizando pelo custeio de programas de coleta seletiva e triagem de recicláveis, assim como criando polos de reciclagem em todo o país. Por sua vez, o setor público municipal deve implementar a coleta seletiva dos resíduos orgânicos (domiciliares, poda, de feiras) e seu tratamento sob forma de compostagem em escala e/ou biodigestão. Também as empresas que operam a cadeia de produção e distribuição de alimentos poderão recuperar os resíduos orgânicos gerados nesses processos e tratá-los em unidades de compostagem e/ou biodigestão.
Isso não significa dizer que não seja necessário reduzir o uso de energia, investindo em energia renovável, ou mudando nossos hábitos de transporte e tecnologias, isso é fundamental. Na verdade, é necessário reduzir todas as nossas emissões substancialmente ao longo das próximas décadas, utilizando todas as ferramentas que temos para fazer isso, e o Resíduo Zero é uma ferramenta especialmente importante.
Mais informações em:
http://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar4/wg3/ar4-wg3-chapter10.pdf
http://www.unep.or.jp/ietc/Publications/spc/Waste&ClimateChange/Waste&ClimateChange.pdf
http://www.epa.gov/climatechange/climate-change-waste/
http://www.ecocycle.org/zerowaste/climate
Autor: Clauber Barão Leite