Desmoronamento em lixão da Etiópia deixa 70 mortos

Na Etiópia, cerca de 70 pessoas morreram e outras ainda estão desaparecidas após o desmoronamento de toneladas de resíduos sólidos em um lixão, na cidade Adis Ababa, capital do país, no dia 11 de março. Apesar de estar há quase 10 anos inabilitado a receber mais resíduos, continua funcionando há mais de 50.

No Brasil, segundo o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis, também são frequentes os casos de acidentes em lixões, muitas vezes resultando em mortes. Mesmo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que previa a extinção deste tipo de destinação até 2014, chegamos em 2015 com mais 3,3 mil municípios com lixões, que até hoje persistem. Diversas manobras legislativas tentam empurrar este prazo da PNRS para anos à frente, ignorando os riscos desses locais para a saúde de catadores e para o meio ambiente.

Segundo o último relatório da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), de 2014 para 2015, houve um aumento nos postos de trabalho no setor de limpeza pública, subindo para 353,4 mil pessoas empregadas na área. Ainda assim, adultos e crianças trabalham em lixões arriscando suas vidas.

Diante do desmoronamento que matou 70 trabalhadoras e trabalhadores na Etiópia, GAIA – Growth Alternatives in Action (Alternativas de Crescimento em Ação) declarou que a política de resíduos zero, se implementada, poderia ter salvado 70 vidas em Adis Ababa. Abaixo segue a carta na íntegra:

Tragédia na Etiópia: resíduo zero poderia ter salvado vida de recicladores

Mais de 70 recicladores foram mortos e outros ainda estão desaparecidos depois do desmoronamento de toneladas de resíduos em um aterro em Adis Ababa, na Etiópia, no último sábado. O aterro recebeu resíduo da capital da Etiópia por mais de 50 anos – apesar de estar há mais de 7 anos inabilitado de continuar operando.

Esta tragédia é a última de uma longa lista de acidentes causados pela operação de aterros e incineradores, e um sinal claro de que alguma coisa drástica precisa mudar. Atualmente, está em construção um incinerador para a queima de resíduos. No entanto, como os aterros, incineradores são altamente propensos a incêndios, acidentes e poluição, o que é perigoso para a saúde humana. Se as autoridades procederem à construção de um incinerador ou de qualquer outra tecnologia que tente lidar com uma quantidade cada vez maior de resíduos, eles perderam uma lição importante desta tragédia quando se trata de resíduos: a única forma de proteger a vida e a saúde é reduzir o desperdício que geramos e investir em estratégias de resíduo zero.

No Sul Global, os recicladores estão trabalhando para expandir suas atividades de recuperação de materiais, e há centenas de histórias colaborativas bem sucedidas entre cooperativas de recicladores e instituições locais. Infelizmente, este não é o caso em Adis Abeba.

Desde a identificação do problema dos resíduos na cidade, perderam-se anos valiosos durante os quais poderiam ter sido implementados sistemas de resíduos zero, bem como programas que teriam uma segurança digna e melhor para os recicladores. A pressão das autoridades locais para fechar o aterro sanitário de 50 anos e construir uma instalação milionária de queima de resíduos veio à custa da vida dos catadores, que perderam sua única fonte de renda quando o incinerador começou a construção.

Negociações terminaram com a aprovação de um incinerador, que levou anos para ser construído, o qual ainda não está em operação, e pretende queimar 80% dos resíduos, a um custo de investimento de milhões de dólares. Em vez dessas tecnologias – atormentadas por falhas em todo o mundo – a cidade poderia estar investindo em programas de educação e difusão para reciclagem e compostagem com a incorporação de recicladores que, deixados ao seu destino, estão hoje enterrados sob os resíduos que a cidade tentou esconder.

Embora a operação de sistemas avançados de recuperação de materiais administrados pelos municípios seja comum nos países industrializados, no Sul Global a maioria dos recicladores é autônoma, principalmente na economia informal, e recupera itens reutilizáveis ​​e recicláveis. Desta forma, a reciclagem fornece meios de subsistência a 15 milhões de pessoas em todo o mundo – 1% da população no Sul Global.

Pré-lançamento do ReciclAtibaia acontece nesta quarta

A partir de abril, a cidade de Atibaia completará 100% de Coleta Seletiva na área urbana. Diante disso, amanhã, dia 22 de março, acontecerá o pré-lançamento do programa ReciclAtibaia, às 19h, no Auditório do Fórum da Cidadania.

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Educação ambiental com foco em resíduos sólidos

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6º Encontro do Ciclo de Diálogos Resíduo Zero trabalhou educação ambiental: mitos, políticas e práticas

No dia 7 de dezembro de 2016, aconteceu o 6º Encontro do Ciclo de Diálogos Resíduo Zero,Ciclo último evento da campanha Resíduo Zero, lançada em maio deste ano. Participaram deste evento Patrícia Blauth, educadora ambiental e representante da Aliança Resíduo Zero Brasil, Mônica Borba, educadora ambiental e diretora da UMAPAZ, Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, Nádia Campeão, Secretária Municipal de Educação, e Juarez Michelotti, do Sesc, cujo foco foi educação ambiental e resíduos sólidos.

Blauth abriu os trabalhos com uma brincadeira, em que integrantes do público tinham que convencer outros participantes a usar copos e canecas duráveis, trazendo argumentos sobre por que é melhor do que utilizar copos descartáveis. Os argumentos a favor foram: “gasta-se mais água para produzir um copo descartável do que para lavar um durável, além de aumentar significativamente a quantidade de resíduos gerados”. Do outro lado, disseram: “A natureza é infinita, a mãe terra é inesgotável”, então “tudo bem desperdiçar”.

Nádia Campeão, Secretária Municipal de Educação, destacou a importância da relação entre educação e meio ambiente

E com essa brincadeira a educadora foi descontruindo vários mitos que cercam a questão dos resíduos sólidos e que influenciam nossas práticas cotidianas. Uma das questões trazidas foi sobre a alimentação. Patrícia lembrou que a plantação de soja para alimentar o gado é uma monocultura que degrada a diversidade da terra. Ainda constatou que para produzir 1kg de batata, gasta-se 500L de água, e para 1 bife, 15 mil L. “O solo não é renovável, a água não é renovável”, destaca.

Outro mito desconstruído foi o de que “todo biodegradável é bom”. Ela afirmou que nem sempre aquilo que é biodegradável é biocompostável, ou seja, encontra as condições necessárias para a decomposição ambientalmente sustentável, dado que muito destes materiais são compostos de resinas de petróleo ou outros químicos que irão para o solo e para as águas quando degradados.

Outro mito é a afirmação “Recicle, a natureza agradece”, dado que reciclar, assim como compostar, é uma das últimas alternativas para tratar resíduos sólidos. Antes disso, é mais importante reduzir o consumo e a produção de bens que no final vão virar resíduos. Reciclar também consome energia, água e gera resíduos como aqueles que foram encontrados na barragem de Mariana, em Minas Gerais.

Neste contexto de discussão, Elisabeth Grimberg, coordenadora da área de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis e membro da ARZB, lembrou que para reciclar materiais de alumínio, é necessário acrescentar bauxita, recurso mineral não renovável, o que não é mencionado nas propagandas de reciclagem de alumínio.

Juarez Michelotti deu ênfase no processo de diminuição no uso de resíduos sólidos descartáveis pelo Sesc

Para desmistificar que “os descartáveis são mais higiênicos”, Patrícia criticou o terrorismo sanitário, onde tudo precisa ser esterilizado, higienizado, lavado. A higiene não está no objeto, mas sim no manuseio. A ideia de que os descartáveis são mais higiênicos não é verdadeira se lembrarmos que os sachês de catchup nem sempre estão mais limpos do que as bisnagas.

Por fim, abordou o mito “reduzir o consumo acaba com os empregos”. Foi lembrado que não precisamos a todo momento consumir materiais, mas também serviços, como por exemplo o de consertar, recondicionar produtos. Na realidade, a tentativa da indústria de aumentar a produtividade substituindo trabalhadores por tecnologias é o maior fator de diminuição de postos de trabalho.

JuarezMichelotti, representando o SESC do Estado de São Paulo apresentou o programa Sesc: “Lixo menos, é mais”, o qual busca contribuir para o fortalecimento da sustentabilidade, conservação ambiental e minimização de resíduos nas suas nas 38 unidades do SESC .  Tudo isso tendo em vista também uma destinação socioambiental responsável pelos resíduos produzidos. Diante disso, aconteceu uma mudança individual e coletiva entre os funcionários do Sesc: substituição de descartáveis por duráveis, e, por exemplo, implantação de coleta seletiva.

Por fim, Mônica Borba, Diretora da UMAPAZ, Departamento de Educação Ambiental da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) da Prefeitura do Município de São Paulo, apresentou as ações desenvolvida por esta instituição desde 2015. Informou que existem 93 pontos em implementação de coleta seletiva nos 4.000 prédios públicos de São Paulo. Nestes, o Programa para Implantação da Coleta Seletiva Participativa prevê que em parques e escolas, a coleta seletiva será realizada em três tipos: recicláveis, compostáveis e aterráveis. Com isso, pretende reduzir os rejeitos que serão encaminhados aos aterros sanitários, ampliar a quantidade de resíduos recicláveis e limpos que vão para as cooperativas, estimular a implantação de processos de compostagem e aumentar a produção de composto orgânico.

Mônica propôs um exercício de reflexão aos participantes:“descubram qual o caminho dos resíduos quando saem de suas casa”. Afirmou a seguir: “Você certamente irá se surpreender com a destinação e com todos os agentes que estão envolvidos no processo”.