Priorização da gestão de resíduos sólidos nas cidades aumenta, diz Banco Mundial

Desde 2000, os empréstimos do organismo para projetos de gestão de resíduos sólidos atingiu 4,5 bilhões de dólares, apoiando 329 programas do tipo em todo o mundo.

Moana Nunes, catadora de materiais recicláveis. Foto: Banco Mundial/Mariana Kaipper Cerratti
Moana Nunes, catadora de materiais recicláveis. Foto: Banco Mundial/Mariana Kaipper Cerratti

 

Para os moradores de Rosario, Argentina, o gerenciamento adequado de resíduos sólidos significa mais do que apenas uma cidade limpa. A abordagem do lixo* em Rosario melhorou a economia e o meio ambiente, de acordo com a prefeita da cidade, tendo “impacto direto sobre o que mais importa: a qualidade de vida dos residentes urbanos”.

“Nós tentávamos estar um passo à frente, assumindo o desafio de inovar enquanto procurávamos soluções”, disse a prefeita de Rosario, Monica Fein. “Nossa introdução de serviços de coleta modernizados resultou em uma mudança profunda na paisagem da cidade”.

Uma geração atrás, muitas cidades pelo mundo não tinham programas abrangentes de gerenciamento de resíduos sólidos. Os resíduos orgânicos eram alimentos para animais e resíduos de embalagens quase não existiam. Hoje, devido ao crescimento populacional, a rápida urbanização e desenvolvimento econômico, a gestão do lixo tornou-se um dos problemas mais urgentes do planeta.

Em 2012, o Banco Mundial alertou no seu relatório “What a Waste”, prevendo um aumento de 70% do lixo urbano até o ano de 2025. Nesse mesmo ano, o documentário aclamado pela crítica “Trashed” olhou com profundidade a crise global de lixo.

Cidades no centro

Uma vez que a responsabilidade pela gestão de resíduos sólidos cai normalmente sobre os municípios, não é nenhuma surpresa que a questão está no topo da agenda de prefeitos em países ricos e pobres, de acordo com Ede Ijjasz-Vasquez, Diretor Sênior de Prática Global Social, Urbana, Rural e de Resiliência do Banco Mundial:

“Sem uma boa gestão de resíduos sólidos, você não pode construir uma cidade sustentável e habitável”, disse. “Não é apenas sobre soluções técnicas. Existem impactos climáticos, de saúde e os de segurança, bem como considerações sociais importantes, a partir da mudança de comportamento para inclusão de catadores, para que as pessoas e as sociedades sejam encorajadas a reduzir e reciclar o lixo.

Desde 2000, os empréstimos do Banco Mundial para projetos de gestão de resíduos sólidos atingiram 4,5 bilhões de dólares, apoiando 329 programas de resíduos sólidos em todo o mundo. Os projetos combinam o financiamento de infraestrutura e serviços de consultoria, e abrangem desde a coleta básica de lixo e disposição final até programas sofisticados de mudança de comportamento, reutilização e reciclagem.

Soluções inovadoras para desafios de longa data

Especialistas urbanos, sociais e de meio ambiente do Banco Mundial estão trabalhando para desbloquear soluções para alguns dos desafios no setor de resíduos sólidos.

Operações são caras. Em muitos países em desenvolvimento, a gestão de resíduos sólidos pode consumir de 20 a 50% do orçamento de uma cidade. Países em transição do status de baixa renda para renda média são particularmente atingidos, sem estrutura de imposto ou taxa para sustentar programas de resíduos sólidos e uma população acostumada a usar gratuitamente os lixões a céu aberto.

A Colômbia, um país que coloca 96% dos seus resíduos em aterros, resolveu esta questão através de um programa nacional que cobra taxas com base na capacidade da pessoa para pagar.

Mas se exigir pagamento, é necessário entregar. Os cidadãos não estão dispostos a pagar por coleta de lixo de baixa qualidade, no entanto, é impossível executar um programa de coleta de resíduos profissional sem uma base de receita sólida. O Banco Mundial está trabalhando em programas inovadores para estimular as receitas e, onde as instituições governamentais são fortes, parcerias público-privadas para aumentar a eficiência.

Os trabalhadores informais desempenham um papel importante na maioria dos países em desenvolvimento, onde de 15 a 20% dos resíduos são gerenciados informalmente por indivíduos ou microempresas que não são registados ou reconhecidos. Eles coletam, separam, reciclam e reutilizam os resíduos. “Nós desenvolvemos alguns modelos muito promissores para garantir que os trabalhadores informais de resíduos tenham oportunidades formais de emprego”, disse Frank Van Woerden, um engenheiro ambiental chefe do Banco Mundial.

A instituição está desenvolvendo e testando várias abordagens nas regiões em todo o mundo:

África: Depois de uma guerra civil de décadas na Libéria, lixões irregulares dominavam a paisagem de sua capital, Monrovia, com lixo transbordando para as estradas, canais e vias navegáveis. O Banco Mundial começou a apoiar Monrovia com a gestão de resíduos sólidos como uma intervenção de emergência em 2010, com um forte foco no fortalecimento da gestão financeira, aquisições, gestão de contratos e recuperação de custos. Um aterro sanitário e duas estações de transferência de resíduos já foram construídos, lixões ilegais foram removidos, e a coleta de lixo aumentou de 13 para 50%.

Leste da Ásia e Pacífico: Na China, a coleta municipal de resíduos sólidos aumentou de 31 milhões de toneladas em 1980, para 157 milhões de toneladas em 2009, com estimativa de 585 milhões de toneladas em 2030, desencadeada pela rápida urbanização e crescimento populacional sem precedentes. O Banco Mundial está financiando um novo projeto de resíduos sólidos em Ningbo, introduzindo a separação de resíduos no âmbito familiar para mais de 2 milhões de pessoas, e uma parceria público-privada para financiar a construção de uma estação de tratamento para processar resíduos de cozinha provenientes de habitações e mercados.

Europa e Ásia Central: Países como Azerbaijão estão no processo de lançamento de programas para capturar materiais recicláveis e reduzir o uso de matérias-primas. Esses países também estão mudando abordagens municipais em favor das regionais em tratamento e eliminação de resíduos, aproveitando as economias de escala.

América Latina e Caribe: Em três cidades da Argentina – Mar del Plata, Rosario, e Salta – os alimentos constituem de 15 a 30% dos resíduos em seus aterros. Estratégias para reduzir o desperdício de alimentos têm sido desenvolvidas para estas cidades, incluindo parcerias com a indústria alimentícia para a conscientização, trabalhando com redes de bancos de alimentos para incentivar a doação de alimentos e aumentar a separação e tratamento de resíduos alimentares para criar um composto de alta qualidade.

Oriente Médio e Norte da África: Esforços recentes têm resultado no desenvolvimento de novas instalações de aterros sanitários, lançado iniciativas de reciclagem, e melhora significativa das condições dos catadores. Dois grandes aterros sanitários foram construídos na Cisjordânia, servindo 1,5 bilhão de habitantes. Um terceiro projeto na Faixa de Gaza irá fornecer serviços de resíduos sustentáveis para quase metade da população. No Marrocos, há ênfase em iniciativas de transformação de resíduos em recursos para aumentar a quantidade de material recuperado, explorar energia de resíduos e fornecer oportunidades de empregos seguros e formais para recicladores informais.

Sul da Ásia: No Nepal, a Parceria Global em Ajuda Baseada em Resultados no Banco Mundial está financiando um projeto inovador que preenche a lacuna financeira entre os custos dos serviços de gestão de resíduos sólidos e as receitas arrecadadas. Na Índia, um projeto que abrange toda a cadeia de valor de resíduos – desde a coleta ao processamento à disposição final – está em preparação, potencialmente beneficiando até 3 milhões de pessoas em cidades selecionadas no estado de Uttar Pradesh.

*A Aliança Resíduo Zero Brasil não utiliza o conceito lixo, e sim resíduos.

Fonte: Nações Unidas no Brasil 

França é 1º país a proibir supermercados de jogarem comida no lixo

A fome é um dos principais problemas da humanidade. Mas há muito tempo que o mito de ‘não há comida para todos’ foi quebrado. O que existe é uma má distribuição e a desigualdade de oportunidades e de acesso a uma alimentação digna.

Diante disso, o desperdício é um grande vilão. ONGs e ativistas lutam fortemente para mudar essa situação. E eles tiveram uma notícia positiva neste mês.

A França é o primeiro país a aprovar a lei que proíbe os supermercados de jogarem alimentos não vendidos no lixo. Em vez disso, os estabelecimentos são obrigados a doá-los a alguma ONG ou banco de alimentos. Os supermercadistas que não assinarem o contrato de doação vão ter de pagar uma multa de mais de 3 mil euros.

A lei foi aprovada por unanimidade no senado francês e diz que os estabelecimentos comerciais não poderão se desfazer de alimentos que se aproximam da data de validade.

A regra reforça uma forte campanha apoiada por cidadãos e ativistas franceses que se opõem ao desperdício de alimentos e lutam pelo combate à pobreza. O movimento, que foi iniciado por uma petição encaminhada pelo vereador Arash Derambarsh, teve um projeto de lei aprovado em dezembro, mas só foi validado neste mês.

Os ativistas esperam que, após a decisão da França, a comunidade da União Europeia aplique esta lei em todos os países. Ela foi bem recebida pelos bancos de alimentos, que vão começar a procurar voluntários, meios de transporte e locais de armazenamento para as comidas que serão doadas.

Os supermercados serão impedidos também de tornar as comidas impróprias para o consumo deliberadamente. É comum que isso aconteça em comércios que não querem oferecer os alimentos para pessoas com necessidade de doação.

Segundo o Guardian, nos últimos anos, o número de sem-tetos e desempregados no país aumentou drasticamente e a maioria dessas pessoas comparecia aos supermercados à noite, para se alimentar.

Fonte: Meio NorteBrasil Post

Plano tenta acabar com 280 lixões no Ceará

Hoje, o Estado lança o Plano e a Lei Estadual de Resíduos Sólidos, além de um diagnóstico sobre o descarte de lixo.

por Karine Zaranza – Repórter

Apesar de a Lei 12.305, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos em 2014 e proíbe os lixões, o Ceará ainda mantém 280 locais de descarte de lixo a céu aberto. O diagnóstico preocupante será apresentado hoje pela Secretaria do Meio Ambiente (Sema) durante o lançamento do Plano e a Lei Estadual de Resíduos Sólidos, na Assembleia Legislativa, com a presença do governador Camilo Santana.

“É um dos mais graves problemas ambientais do Ceará atualmente. Com o plano, queremos, em 20 anos, acabar com a vergonha de termos 280 lixões no Estado. São ilegais porque não deveriam existir desde 2014, além de promoverem riscos à saúde e ao meio ambiente”, declarou o titular da Sema, Artur Bruno.

O diagnóstico mostrou ainda que, dos 184 municípios, apenas oito utilizam aterros sanitários, localizados em Fortaleza, Caucaia, Aquiraz, Mauriti e Brejo Santo. “Nesses cinco aterros deveriam ser depositados apenas os rejeitos, que é todo o material que não pode ser reciclado. Atualmente, pouco é reciclado”, ressalta Bruno. Outro ponto é em relação a coleta seletiva, presente em apenas 21 municípios. E desses, apenas em seis ela acontece de forma completa.

planta centro de tratemento

Unidades

Quanto aos resíduos de serviços de saúde, a precariedade do manejo ocorre em relação à falta de plano de gerenciamento destes. Apenas os municípios das regiões metropolitanas de Fortaleza e do Cariri dispõem de unidades de tratamento de resíduos de serviços de saúde.

Todo o processo de funcionamento da coleta seletiva, tarefa que integra as ações de limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos, é de competência das prefeituras. O secretário estadual reconhece que o investimento é alto para a realidade das gestões municipais.

Dos 26 consórcios realizados em 2005 e 2006, apenas dois irão sair do papel neste ano por falta de recursos. Até 2017, duas Centrais de Tratamento de Resíduos serão entregues em Sobral – beneficiando 15 municípios – e em Limoeiro do Norte – 11 cidades. “Cada Central tem investimento de R$20 milhões. O recurso é da Secretaria das Cidades. Além disso, até o final de 2017, serão entregues 35 ecopontos, que possuem o custo de R$350 mil cada”, promete.

A Sema deve investir cerca de R$9 milhões em planos regionais e na recuperação de áreas degradadas por lixões, que vai beneficiar 60% da população. Artur Bruno afirma que esses planos regionais vão estimular as prefeituras a se organizarem em relação ao problema.

A ideia é apresentar metas de curto, médio e longo prazo que possibilite também ações mais simples e com investimento menor. A divisão em 11 regiões é também uma forma de dividir os custos e garantir o serviço para várias cidades. “Sabemos que um aterro custa cerca de R$8 milhões e os municípios não têm condições, mas é possível realizar uma coleta seletiva, implantar ecopontos, realizar campanhas de educação ambiental. Eles precisam se organizar, ter equipes técnicas e destinar parte do orçamento”.

Incentivo

Entre as ações de incentivo que o Governo do Estado vem tentando realizar, está o licenciamento ambiental simplificado e gratuito para os catadores e a redução de 58,82% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre os produtos de toda a cadeia de reciclagem. Foram criados incentivos para melhoria do desempenho ambiental dos municípios cearenses, por meio da certificação do Selo Município Verde – Lei Estadual no 13.304, de 19 de maio de 2003 – e de critérios para distribuição aos municípios de parte da cota de 2% do ICMS, condicionados à melhoria dos indicadores sociais e do meio ambiente.

Segundo o Comitê de Política Monetária (Copom), em 2014, 21 cidades receberam o benefício. “A gente está vendo que muitos municípios estão perdendo recursos por falta de atenção na área de gestão de resíduos sólidos”, pontua Bruno.

[Porto Alegre] Aprovado o projeto que proíbe a incineração de resíduos na Capital

A Câmara Municipal de Porto Alegre aprovou, na sessão desta quarta-feira (9/3), o projeto de lei dos vereadores Fernanda Melchionna (PSOL) e Marcelo Sgarbossa (PT) que proíbe, no Município, a incineração no processo de tratamento e destinação final de resíduos sólidos urbanos recicláveis, exceto aqueles descartados como rejeitos.

Código: 61692 - Sessão Ordinária - 09/03/2016  Comemoração pela aprovação do projeto de lei, de autoria da vereadora Fernanda Melchionna e do vereador Marcelo Sgarbossa, que proíbe a incineração no processo de tratamento e destinação final de resíduos sólidos urbanos  Na foto: Vereadora Fernanda Melchionna e manifestantes Foto: Ederson Nunes
Código: 61692 – Sessão Ordinária – 09/03/2016
Comemoração pela aprovação do projeto de lei, de autoria da vereadora Fernanda Melchionna e do vereador Marcelo Sgarbossa, que proíbe a incineração no processo de tratamento e destinação final de resíduos sólidos urbanos. Na foto: Vereadora Fernanda Melchionna e manifestantes. Foto: Ederson Nunes

Conforme os vereadores, a proposta se baseia no resultado de audiência pública promovida pelos Ministério Público doEstado e do Trabalho, realizada em novembro de 2012, sobre a destinação do lixo e perspectivas da incineração. A discussão tratou sobre a destinação dos resíduos sólidos e contou com a participação de diversos organismos não-governamentais e governamentais, juristas, catadores de materiais recicláveis e comunidade técnico-cientifica.

O projeto apresenta dados da pesquisa do professor Jorge Villalobos, do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Maringá (PR), sobre o uso nocivo de tecnologias de incineração, no qual afirma haver risco à saúde humana pela forte associação entre incineradores e a existência de linfomas na população da zona envolvente.

Para Fernanda e Sgarbossa, a restrição ao uso dos incineradores em Porto Alegre é necessária por ser essa uma tecnologia ultrapassada nos países desenvolvidos. “Tanto que muitos aboliram a utilização de tais práticas, tendo, inclusive, não apenas desautorizado novos empreendimentos semelhantes, mas fechado incineradoras em atividade, pois essa técnica é considerada defasada e inadequada”, explicam.

Como exemplo, os vereadores citam o Parlamento Europeu e o Conselho da União Europeia, em manifestação relativa às emissões industriais (prevenção e controle integrados da poluição), e sobre incineradores de resíduos sólidos naquele continente. “Na Alemanha, as instalações de incineração (Wips), já na década de 1980, foram símbolo de contaminação ambiental, haja vista a quantidade de dioxinas e resíduos que foram despejados nas periferias dos centros urbanos”, destacam. Lei semelhante foi aprovada e já vigora em Maringá.

Fonte: Câmara Municipal de Porto Alegre
Texto: Ananda Zambi (estagiária de Jornalismo)
Milton Gerson (reg. prof. 6539)

Edição: Claudete Barcellos (reg. prof. 6481)

 

Mais prazo para os lixões?

O Projeto de Lei 2289/2015, aprovado no Senado e em tramitação na Câmara dos Deputados, dá prazo até 31 de julho de 2018, para capitais e regiões metropolitanas se adequarem.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos foi aprovada em 2010 e determina que todos os lixões do país deveriam ter sido fechados até 2 de agosto de 2014 Tânia Rêgo/Agência Brasil
A Política Nacional de Resíduos Sólidos foi aprovada em 2010 e determina que todos os lixões do país deveriam ter sido fechados até 2 de agosto de 2014 Tânia Rêgo/Agência Brasil

Por Andreia Verdélio, da Agência Brasil – 

Estão em tramitação no Congresso Nacional dois projetos que prorrogam o prazo para que municípios passem a dar o destino adequado aos rejeitos de resíduos sólidos, fechem seus lixões e se ajustem de vez à Política Nacional de Resíduos Sólidos. A proposta que prevê o aumento escalonado do prazo, de acordo com o porte da cidade, é bem recebida pelo governo federal porque coloca os municípios na legalidade, como explica a diretora de Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Zilda Veloso.

“Apesar de não ser o ideal, se formos observar a Política de Meio Ambiente e a Lei de Crimes Ambientais, havia uma previsão de que os quatro anos seriam suficientes e não foram. O que a realidade nos mostra é que quem tem mais dificuldade são os pequenos municípios. Essa proposta tem uma concordância do Executivo porque ela cria critérios escalonados”, disse, explicando que o outro projeto que prevê a prorrogação linear de quatro anos seria menos justo com os municípios menores.

Para a coordenadora de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis, Elisabeth Grimberg, a possibilidade de prorrogação da política é um desserviço e vai esticar seu processo de implantação. “Não contribui para avançar na perspectiva da mudança de padrão da gestão e destinação de resíduos. É um entrave porque quando terminar os novos prazos, de novo os municpois vão deixando pra depois”, disse.

Os problemas na implantação da política poderiam ser tratados de outra maneira, segundo Grimberg, com a atuação do Ministério Público promovendo, por exemplo, Termos de Ajustamento de Conduta junto aos municípios, estabelecendo metas e discutindo como os gestores avançariam no gerenciamento de resíduos.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos foi aprovada em 2010 e determina que todos os lixões do país deveriam ter sido fechados até 2 de agosto de 2014 e o rejeito (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado) encaminhado para aterros sanitários adequados.

O Projeto de Lei 2289/2015, aprovado no Senado e em tramitação na Câmara dos Deputados, dá prazo até 31 de julho de 2018, para capitais e regiões metropolitanas se adequarem; até 31 de julho de 2019, para municípios com população superior a 100 mil habitantes; até 31 de julho de 2020, para municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes e até 31 de julho de 2021, para aqueles com população inferior a 50 mil habitantes.

Segundo a diretora do MMA, os médios e pequenos municípios poderiam formar consórcios para construção de aterros, mas acabaram esbarrando na falta de vontade política, falta de técnicos locais para estar à frente dos projetos e de recursos financeiros. “A política hoje é mais complexa, exige que exista um plano de gestão, que o que vá para o aterro seja só rejeito, então tem que ter coleta seletiva e redução da geração de resíduos. Mas solução não é muito fácil”, explicou.

Veloso conta que aproximadamente 41% dos municípios já elaboraram seus planos de gestão e que apenas 58% dos resíduos sólidos gerado nas cidades estão indo para aterros sanitários adequados . Sem a prorrogação dos prazos, os gestores municipais que não se adequaram à política estão sujeitos a ação civil pública, por improbidade administrativa e crime ambiental.

Técnicas de tratamento diferenciadas

A coordenadora do Instituto Pólis explicou que, de todo o lixo produzido no país, 60% é orgânico, 30% é reciclável e apenas 10% é rejeito, que precisa ir para aterro. “Existem soluções práticas e tecnológicas, alternativas concretas de tratamento. Mas tem muita desinformação dos gestores, falta terem maior contato com experiência em andamento no Brasil e no mundo”, disse Grimberg, citando exemplos de iniciativas de compostagem e biodigestão, sistemas de tratamento da matéria orgânica.

Para ela, os gestores locais têm insegurança de migrar do sistema de aterro para o sistema de compostagem e /ou biodigestão, já que isso também requer um estudo em termos de orçamento. “Falta compreender que tem que haver um remanejo, uma reapropriação do recursos orçamentários para ser destinados para implantar novas formas de coleta e tratamento, como parques de compostagem e biodogestão”, disse Grimberg.

A divulgação de técnicas de compostagem, inclusive, é uma prioridade para o MMA, explicou a diretora Zilda Veloso, já que a aproximadamente 51% dos resíduos sólidos gerados são resíduos orgânicos, que nem sempre precisam ser considerados rejeito, algo que não tem aproveitamento técnico ou econômico. Apesar disso, menos de 1% das cidades brasileiras fazem a compostagem, segundo ela.

Além da utilização como adubo, a compostagem reduz a periculosidade da matéria orgânica, que normalmente gera gás e chorume, tornado-a um material inerte. “A questão ambiental tem que ser encarada como uma economia a médio e curto prazo que os governos federal e locais podem fazer, porque ela está ligada à qualidade de vida e saúde das pessoas dentro das cidades, em reduzir as contas de hospital e de recuperação de áreas contaminadas, por exemplo. Os países ricos fazem essa conta, de reduzir os custos da gestão”, disse Veloso.

Ela explica que o MMA oferta, sistematicamente, cursos a distância para gestores municipais, muito focados em pequenos municípios, que são os mais carentes de informação. “E não oferecemos só uma tecnologia, mas colocamos várias ideias necessárias para que se melhore minimamente a gestão de resíduos”, disse Veloso.

Acordos setoriais

Outro ponto da política de resíduos sólidos em implantação são os acordos de logística reversa. Das cinco cadeias prioritárias, três já estão com acordos assinados: embalagem de óleos lubrificantes, lâmpadas e embalagens em geral (plástico, metal, papelão e vidro). As cadeias de eletroeletrônicos e medicamentos ainda discutem os termos do acordo com o MMA.

Um dos impasses para estabelecer a logística reversa dos eletroeletrônicos, segundo Veloso, está no Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), cobrado pelos estados na entrada e saída de mercadorias. “Os estados não estariam reduzindo tributos, mas aplicando um imposto justo na entrada da comercialização. A não cobrança do impostos sobre o resíduo descartado vai implicar em um preço mais justo para propiciar a reciclagem”, disse, explicando que a decisão depende de negociações com os estados.

Outra questão em debate são os pontos de recolhimento de material descartável que, de acordo com a classificação de resíduos, podem ser considerados locais de armazenamento de resíduo perigoso, portanto, sujeito a licenciamento ambiental. Segundo Veloso a questão ainda está em debate no Conama mas o MMA propõe que produtos minimamente íntegros, descartados pelo consumidor, não apresentam perigo.

Neste ano, o MMA deve ainda atualizar aquelas cadeias de logística reversa estabelecidas antes da lei de resíduos sólidos.

Inclusão de catadores

A política de resíduos sólidos prevê também a inclusão socioeconômica dos catadores de material reciclável, que ficariam sem fonte de renda com o fechamento dos lixões. Segundo Zilda Veloso, apesar de não ser regra, naturalmente os municípios deveriam ofertar para eles trabalharem na coleta seletiva e centrais de triagem, por exemplo, assim como as empresas que fazem a logística reversa utilizarem a mão de obra dos catadores.

“Eu acho que para os catadores a política está sendo bem inclusiva, apesar de todas as dificuldades desse último ano. Eles estão crescendo na cadeia”, disse a diretora, citando os programas do governo federal Pró-catador, de inclusão socioeconômica de catadores, e Cataforte, que repassa recursos para cooperativas e associações desses trabalhadores.

Para Ronei Alves, da coordenação nacional do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis, os municípios não estão priorizando a política de resíduos sólidos e nem elaboração dos planos de gestão para acessar recursos para o gerenciamento dos resíduos. Por outro lado, ele vê com bons olhos o acordo setorial de embalagens em geral que inclui os catadores como atores importantes da logística reversa.

“As cooperativas e associações podem ser ferramentas importantes no sistema de coleta seletiva e destinação dos resíduos. Gostaríamos que os prefeitos e governadores vissem os catadores como aliados na implantação da política”, disse Alves, contando que existem em torno de 1,2 milhão de catadores no Brasil, incluindo aqueles que estão trabalhando nos lixões e nas ruas.

Sistema de informações para a população

A diretora do MMA disse que o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos está sendo estruturado para integrar todos os dados produzidos pelo governo federal e pelos estados e municípios no atendimento à política nacional. “Vai ser um grande ganho até o final de 2016 termos implantado o sistema. Isso vai dar visibilidade a política nacional, vai fazer com que o cidadão consiga mais informações e fique mais engajado e os próprios órgãos de governo terão uma ferramenta eficiente para propor novas ações, como trabalhar a possibilidade de incluir determinado rejeito na reciclagem no futuro.”

Para Veloso, apenas aparentemente a implantação da política está devagar e logo será possível ver o afunilamento de todas as iniciativas no efetivo cumprimento da política. É uma política com pontos complexos e que mexe com vários atores, segundo a diretora, como catadores, indústria, comércio, Ministério Público e, principalmente, o cidadão. “Porque se o cidadão não fizer a parte dele a cadeia não anda. Se ele não separar em casa o resíduo úmido do seco, como você vai fazer a coleta seletiva? Não faz. Se o cidadão não descartar a lâmpada, o eletrodoméstico, a embalagem de óleo no local correto, a logística reversa não via funcionar. E o cidadão está entendendo que ele tem uma responsabilidade nessa cadeia, tudo é um processo educativo de crescimento”, disse. (Agência Brasil/ #Envolverde)

* Edição: Valéria Aguiar.

** Publicado originalmente no site Agência Brasil.

MMA divulga guia para gestores municipais

Foto de Paulo de Araújo/MMA
Foto de Paulo de Araújo/MMA

Manual para elaboração dos planos de gestão de resíduos sólidos nas cidades de pequeno porte está disponível em versão digital.

Com o intuito de orientar melhor técnicos de pequenos municípios na elaboração de planos de gestão de resíduos sólidos, em 2013, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) elaborou um manual com sugestões metodológicas, cujo conteúdo norteou as três edições de um curso de Educação à Distância, promovidos pelo MMA desde 2013. Agora está disponível a terceira edição do manual, com atualizações do conteúdo, que pode ser acessada aqui. E ainda neste ano, o Ministério pretende lançar a 4ª edição do curso, com o material atualizado.

A terceira edição do manual atualiza e expõe os entendimentos da equipe técnica do Departamento de Ambiente Urbano do MMA sobre a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), incluindo exemplos e iniciativas inovadoras na gestão de resíduos no país. “Sabemos que uma das principais dificuldades dos pequenos municípios é a disponibilidade de recursos. Esperamos que o manual possa guiá-los na elaboração de seus próprios planos de resíduos, juntamente com o aprendizado via Educação à Distância, evitando, assim, custos com contratação de um serviço que pode ser realizado dentro do próprio órgão”, destacou Eduardo Rocha, gerente de Resíduos Sólidos do MMA.

O Manual de Orientações para a Elaboração de Planos Simplificados de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PSGIRS) para municípios com menos de 20 mil habitantes conta com quatro capítulos que agrupam o conteúdo mínimo exigido por regulamento, como diagnóstico, programas e metas. Contém também orientações sobre cálculo para taxa de resíduos sólidos, fontes para obtenção de recursos, e responsabilidades, entre outros. Segundo Eduardo, as orientações também podem ser utilizadas por municípios maiores.

PLANOS DE RESÍDUOS

Os planos são instrumentos definidos pela PNRS, que auxiliam a tomada de decisão dos gestores municipais quanto às melhores alternativas para a gestão de resíduos. Permitem ainda a redução do consumo de recursos naturais, abertura de novos mercados, geração de trabalho e renda, inclusão social e diminuição dos impactos ambientais por meio da destinação adequada dos resíduos. Seu conteúdo mínimo encontra-se definido no artigo 19 da Lei 12.305/2010.

No caso dos municípios com menos de 20 mil habitantes, a Lei prevê que o Plano poderá ser elaborado de forma simplificada. Segundo levantamento realizado pelo Departamento de Ambiente Urbano, em 2015, dos 3.842 municípios com menos de 20 mil habitantes, 1.606 elaboraram seus planos de gestão de resíduos (41,8%).

EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA

Em 2013 e 2014, o Departamento de Ambiente Urbano ofereceu três edições do Curso de Educação à Distância Orientações para elaboração de Plano Simplificado de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, com duração de cinco semanas. A tutoria realizada pela equipe técnica do MMA na resposta às dúvidas e moderação dos fóruns ampliou o conhecimento dos participantes, que lidam diretamente com a Política Nacional. Concluíram essas três edições do curso 472 alunos, distribuídos por 25 estados e no Distrito Federal. Para mais informações sobre os cursos, basta acompanhar este site.

Assessoria de Comunicação Social (Ascom/MMA): 61.2028-1173*

*Publicado originalmente em Notícias – InforMMA/ Por Marta Moraes – Edição Alethea Muniz