Livro ensina crianças a produzir menos lixo e descartá-lo corretamente

Em ‘Eu Produzo Menos Lixo’, bióloga Cristina Santos faz um alerta ecológico e orienta como reduzir o impacto do nosso consumo no meio ambiente.
por Redação RBA

62b3b061-7f29-41c6-9b93-32ea9a6dabc4São Paulo – “A cada dia, produzimos algum tipo de lixo. Todas as coisas que compramos, depois de certo tempo, ficam velhas, fora de moda ou param de funcionar. Então, jogamos fora aquilo que um dia foi útil para nós.” É assim que a bióloga e pesquisadora Cristina Santos abre o livro Eu Produzo Menos Lixo (Cortez Editora, 40 págs.).

A autora contextualiza a produção de lixo desde a pré-história para demonstrar como as mudanças no estilo de vida das pessoas têm causado impacto na sociedade e, especialmente, no meio ambiente. O objetivo é ajudar a desenvolver a conscientização entre as crianças, público que já acompanha os pais ao supermercado e que, desde cedo, tem grande poder de persuasão nas decisões de compra de adultos.

Ilustrado pela holandesa Freekje Veld, o livro mostra como novos hábitos de consumo estão promovendo o esgotamento de recursos naturais fundamentais para nossa sobrevivência. Para facilitar a compreensão, a obra é cheia de exemplos e de desenhos feitos a partir de colagens, que dão um toque lúdico ao conteúdo. “As fraldas de tecido foram substituídas pelas descartáveis. Durante seu primeiro ano de vida, cada bebê usa 1.500 fraldas! Alimentos de todos os tipos são encontrados prontos para serem consumidos em potes de vidro, latas e caixas de plástico ou de papel. O suco, que era feito em casa, agora é comercializado dentro de uma caixa pronto para beber. As bonecas eram confeccionadas de tecido e os carrinhos eram feitos de madeira, mas, com o tempo, o plástico substituiu esses materiais e ainda permitiu uma grande diversificação de brinquedos. Não havia computadores, tablets e celulares, mas hoje eles são comprados aos milhares, diariamente. E também são jogados no lixo aos milhares, diariamente.”

Para onde o lixo é levado? Quais são os riscos que os lixões trazem às pessoas e ao meio ambiente? O que acontece quando o lixo é jogado no chão ou deixado na praia? Depois de explicar sobre os problemas que o lixo traz à natureza, Cristina ensina como cada um pode fazer sua parte para reduzir o impacto: “Uma boa maneira de mudar a história até agora contada é separar os resíduos sólidos que embalam alimentos, bebidas, produtos de limpeza e higiene para que possam ser reciclados. O processo da reciclagem transforma todos esses materiais para serem reutilizados por todos”.

A autora também explica o que deve ser feito com medicamentos que passaram do prazo de validade ou que não serão mais utilizados, lâmpadas fluorescentes que não funcionam mais, pilhas, óleo de cozinha usado, eletrodomésticos e aparelhos eletrônicos. Os ensinamentos servem especialmente para crianças, mas não apenas. Ele também pode ser útil e esclarecedor para os adultos que ainda não dão tratramento correto ao lixo.

Eu Produzo Menos Lixo
Autora: Cristina Santos
Ilustradora: Freekje Veld
Editora: Cortez
Páginas: 40
Ano: 2015
Preço sugerido: R$ 34

Metas de redução de resíduos estão atrasadas no Brasil

Movimentos sociais e consumidores reclamam que medidas do Plano Nacional de Resíduos Sólidos não saíram do papel e cobram ações claras. Brasil não oferece condições plenas para que cidadão reduza a produção de lixo.

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“O atraso na execução do plano estimulou várias organizações da sociedade civil a criarem a Aliança Resíduo Zero Brasil, da qual o MNCR e o Instituto Polis fazem parte. Para Grimberg, o cumprimento do PNRS exige um pacto conjunto de milhares de empresas – das grandes multinacionais até os comerciantes de bairro.”

 

Depois de 20 anos de discussão, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi aprovado em 2010 com uma meta ambiciosa: o Brasil acabaria com os lixões até 2014. Hoje, ainda existem mais de 2 mil lixões ativos no país, onde 54% das cidades brasileiras depositam seus resíduos. Em muitos municípios ainda não há coleta seletiva, e a responsabilidade pula de colo em colo.

Conforme o Compromisso Empresarial para a Reciclagem, apenas 13% da população brasileira têm acesso a programas municipais de coleta seletiva. Ela ocorre em 927 municípios (17%), a maioria nas regiões Sul e Sudeste. A coordenadora de resíduos sólidos do Instituto Polis, Elisabeth Grimberg, afirma que o setor privado e todas as esferas de governo estão atrasados para oferecer ao cidadão a condição de reduzir o lixo que produz.

Mais da metade das cidades ainda utilizam lixões

“Ainda temos a dificuldade em mostrar que o cidadão é um ator importante no caminho para o resíduo zero, porque toda a produção é feita para ser descartável. Na melhor das hipóteses, a pessoa vai separar para a reciclagem”, explica.

Segundo Alex Cardoso, da equipe de articulação do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), o plano nacional foi uma conquista, mas falha ao não responsabilizar fabricantes, governo e consumidores quando estes não cumprem suas obrigações.

O resultado é que a implementação do PNRS de fato está travada. “Há debates sobre prazos, dificuldades de aplicação da política, falta de recursos. São falsos debates que circundam a política para ela não ser aplicada”, critica.

Um dos principais pontos de discórdia é a adoção da logística reversa, segundo a qual os fabricantes são responsáveis pelo descarte das embalagens que produzem. Uma empresa de refrigerantes, por exemplo, é obrigada a criar um sistema para recolher latas e garrafas e encaminhá-las para reciclagem.

Mas Cardoso ressalta que as grandes empresas pagam pela geração do lixo que produzem em países europeus, mas não querem assumir esses custos na América Latina, muito menos quando a lei não os obriga a isso. “O PNRS jogou o debate do pagamento e a responsabilização pela geração do resíduo para o próprio setor empresarial. São os próprios empresários que vão definir a forma que contribuirão. Assim a política fica amarrada por acordos setoriais”.

O atraso na execução do plano estimulou várias organizações da sociedade civil a criarem a Aliança Resíduo Zero Brasil, da qual o MNCR e o Instituto Polis fazem parte. Para Grimberg, o cumprimento do PNRS exige um pacto conjunto de milhares de empresas – das grandes multinacionais até os comerciantes de bairro.

“Isso deveria funcionar com a responsabilidade estendida do gerador do resíduo. O setor público ou privado poderia contratar cooperativas de catadores para gerenciar a cadeia. A rede de cooperativas de catadores deveria ser estruturada e remunerada para participar deste processo”, defende.

Máquina de separação de lixo para reciclagem no RJ

A revolução dos catadores

O renomado ambientalista José Lutzenberger costumava dizer que “o lixo não existe, o que existe é a matéria-prima no lugar errado”. A máxima é cumprida à risca diariamente pelos mais de um milhão de catadores nas ruas e nos lixões do Brasil, organizados em 37 mil cooperativas, mais ou menos estruturadas. A categoria é gigantesca, mas as cooperativas juntas são responsáveis pelo tratamento e reciclagem de apenas 3% dos resíduos no Brasil – um índice muito baixo para o tamanho do problema.

O MNCR trabalha com 54 cooperativas para fazer um estudo nas grandes cidades e apresentá-lo ao governo e ao setor privado a fim de desentravar o PNRS. Equipes do movimento monitoram a organização interna das cooperativas de catadores – desde a chegada do material, passando pela triagem até a destinação final do resíduo. A ideia é quantificar a economia ambiental que os catadores proporcionam.

“Achamos que, trazendo o valor em dinheiro, poderemos constatar a conta que as empresas devem pagar pela produção dos seus resíduos”. Um catador ganha R$ 1,70 real pelo quilo de latinha coletada, mas o lingote chega à fábrica no valor de R$ 17 por quilo. “Nós temos um grande problema que supera a ordem de 1000% sobre o valor e ninguém sabe onde está a diferença ou quem ganha com isso. Há um mercado de atravessadores invisível aos olhos legais, um sistema organizado, que explora os catadores. Queremos que este mercado seja justo”, reivindica Cardoso.

Os catadores querem ter acesso a recursos que, do ponto de vista do MNCR, deveriam ser pagos pelas empresas. “Assim, poderíamos pelo menos dobrar o número de cooperativas, chegando a 6% do tratamento dos resíduos”, estima o catador. Para isso, eles esperam formalizar a categoria para poder fazer contratos com governos e empresas.

Cardoso sugere que o Governo Federal poderia oferecer uma contrapartida ao serviço desempenhado pelos catadores, como a facilitação de uma linha de crédito para que as cooperativas possam se organizar e se equipar.

“Queremos trabalhar com o resíduo de ponta a ponta, fazendo com que, em primeiro lugar não venha a geração de lucro, mas uma ordem de proteção e defesa ambiental”.

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O lixo que desafia um país: Um futuro contaminado

Fonte: Correio Brasiliênse

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Cavalcanti alerta para os problemas na Estrutural: ameaça ao meio ambiente

Os lixões brasileiros vão contaminar os solos, as águas e o ar por cerca de 40 anos depois de serem desativados. A estimativa é de pesquisadores do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB), que identificaram impactos causados pelo lixão da Estrutural. O depósito, considerado o maior do mundo em atividade, é vizinho ao Parque Nacional de Brasília e está localizado na bacia hidrográfica do Paranoá, formadora do lago artificial que circunda a cidade e de onde o Governo do Distrito Federal planeja captar água para abastecer a população.

A bióloga Patrícia Blauth confirma a previsão, que ela chama de “vida inútil” dos lixões. “Esse tempo pode ser maior do que a ‘vida útil’, que é, em média, de 20 a 25 anos. O tempo que vai durar a liberação de contaminantes depende da quantidade de resíduos depositada, da forma de disposição e das condições de clima e do solo, entre outras variáveis”, diz. O lixão de Brasília é usado há mais de 40 anos.

A coordenadora de Resíduos Sólidos do Instituto Polis, Elisabeth Grimberg, copromotora da Aliança Resíduo Zero Brasil, diz que “é comum” a contaminação de lençóis freáticos por depósitos irregulares de resíduos. “O chorume também pode percolar e ir direto para as águas superficiais”, diz.

O prazo para o fechamento dos lixões, determinado pela Lei de Resíduos Sólidos (n° 12.350) se encerrou em agosto de 2014. Agora, o Senado Federal quer ampliar esse limite até 2021, dependendo do tamanho do município. A regra ainda precisa ser confirmada pela Câmara dos Deputados.

Depósitos como o da Estrutural emitem contaminantes altamente tóxicos — conhecidos como chorume — que se infiltram no solo e atingem as reservas de água. A contaminação também escorre superficialmente e é carregada pelos ventos. Além disso, a decomposição da matéria orgânica nos lixões libera metano, gás de efeito estufa com impacto 21 vezes maior do que o gás carbônico. O metano liberado pelo lixão da Estrutural é a terceira maior fonte de emissões de gases estufa do Distrito Federal, de acordo com estudo realizado em 2014, atrás do setor de transporte e da fabricação de cimento. De acordo com a diretora de Ambiente Urbano do Ministério de Meio Ambiente, Zilda Veloso, alguns dos resíduos descartados “emitem substâncias perigosas, muitas vezes com metais pesados”.

Chorume
O levantamento feito pela UnB mostra que o chorume da Estrutural já contamina o Parque Nacional de Brasília e chega ao lençol freático da região. Porém, ainda não é possível determinar os limites da contaminação. “Há fluxo subterrâneo de chorume percolando para fora do lixão, mas a quantidade de dados ainda é pequena para se determinar a extensão disso”, afirma Luciano Soares, coordenador de graduação em geologia da UnB e um dos responsáveis pelo estudo. “Ainda falta determinar a que profundidade a contaminação pode chegar e onde ela pode sair”, completa Márcio Maciel Cavalcanti, que também assina o levantamento.

Os custos do estudo foram bancados com recursos do próprio grupo, que contou com apoio logístico da universidade. “Participamos de seleções de financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) por três vezes, mas nunca fomos selecionados”, conta o professor Welitom Rodrigues Borges.

A Lei Orgânica do DF destina mensalmente o mínimo de 2% da receita orçamentária para a fundação, para apoio científico, tecnológico e de inovação, visando “o bem-estar da população, defesa do meio ambiente e progresso da ciência e tecnologia.” A Assessoria de Comunicação da FAPDF informou que, entre mais de 7 mil processos, há pelo menos uma pesquisa sobre “condições de saúde dos moradores do lixão da Estrutural”.

A Resolução n° 420 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), de 2009, estabelece que empreendimentos com “potencial de contaminação dos solos e das águas subterrâneas” devem fazer monitoramento e apresentar relatórios.A Assessoria de Comunicação da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Distrito Federal, no entanto, informou que a pasta não tem nenhum estudo sobre contaminação provocada pelo lixão e que “está incorporando ao Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) informações sobre o lixão e a contaminação da pluma que está se movendo no solo, com base nos estudos realizados pelo Instituto de Geociências da UnB.”

Prorrogação do prazo para implementação da lei barra avanços na gestão do setor

Fonte: Rádio Brasil Atual

Aterro sanitário: matéria orgânica perdida poderia gerar energia elétrica de biogás e reduzir contaminação do solo (Edilson Rodrigues/Agência Senado
Aterro sanitário: matéria orgânica perdida poderia gerar energia elétrica de biogás e reduzir contaminação do solo (Edilson Rodrigues/Agência Senado

São Paulo – A decisão do Senado de prorrogar o prazo entre 2018 e 2021 para as prefeituras se adaptarem à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) poderá provocar “uma acomodação dos municípios”, critica a coordenadora de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis, Elisabeth Grimberg, para quem as gestões municipais poderão postergar o enfrentamento desse desafio.

Em entrevista à repórter Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual, a especialista diz que já há ferramentas para a implementação da lei. “Há disposição de tecnologias para tratar a matéria orgânica, que é 60% da composição do resíduo domiciliar, sob a forma de biodigestão ou compostagem. É uma tecnologia já implementada pelo setor privado no Brasil, com referências de que funciona.”

“A parte dos resíduos secos é de 30% do total gerado diariamente pelas nossas residências. Também se sabe que há um caminho, que é a coleta e depois a destinação para a indústria da reciclagem. Então, seria o caso de ampliar e contar com a responsabilização do setor privado, que pela lei tem de assumir o custeio desse sistema”, analisa.

Para Elisabeth, a prorrogação da lei de resíduos sólidos é uma perda, porque quando há pressão para o cumprimento dessa política, o setor empresarial se sente pressionado para buscar alternativas. Ela explica que com recursos da União é possível fazer ações consorciadas. Na opinião dela, com o atraso na implementação das modalidades de coletas, a sociedade fica prejudicada, e também há uma perda na fração orgânica, pois a recuperação dos materiais poderia gerar energia e matéria prima.

“É uma perda absurda, pois é discutida, atualmente, a economia circular. O uso da tecnologia da biodigestão traz um benefício adicional, tem um subproduto além do composto que é a geração de energia elétrica ou de biogás”, afirma.

Até agora, as prefeituras não se adequaram à lei por diversas situações, principalmente em cidades no Norte e Nordeste. “Uma estratégia poderia ser a construção de polos que sediariam esses módulos de capacitação para trazer os municípios do entorno. Houve falta de iniciativa do poder público para contribuir, e do Ministério Público para pressionar os municípios a buscarem instrumentos para mudar o padrão de gestão.”

A coordenadora se preocupa com o atraso dos médios e grandes municípios na extinção de lixões. Ela recomenda que as prefeituras, na gestão dos contratos atuais, convoquem as empresas a ajudar na execução de biodigestão e compostagem. “Não faz sentido a política avançada que aprovamos em 2010 e se trabalhar na perspectiva de resolver o problema colocando aterros sanitários, sendo que os aterros são somente para os rejeitos, como está claro na política nacional de resíduos.”

Segundo a especialista, a crise hídrica representa uma oportunidade para acelerar o processo de implementação da lei, já que o lixões são de alto impacto no ambiente e crime ambiental desde 1998. Para a especialista, é urgente a interferência do Ministério Público para a construção de termos de ajustamento de conduta que auxiliem no fechamento dos lixões.

Elizabeth diz que há muitos lixões com alto nível de contaminação dos lençóis freáticos e bacias hidrográficas. “Porque o chorume junto com os solventes escorre pelo solo e penetra nos lençóis freáticos, e isso é grave se levarmos em conta a escassez de água e a necessidade de abastecimento humano. Os aterros têm esse problema, mesmo com a vedação adequada, pois existem vazamentos, provocando contaminação”, conclui.

Ouça a reportagem de Marilu Cabañas na Rádio Brasil Atual:

 

 

Aproveitar resíduos é estratégico

Fonte: ANDI – Comunicação e Direitos

De acordo com o Quarto Relatório do IPCC, os resíduos provenientes do pós-consumo contribuem apenas com uma pequena parcela das emissões globais de gases de efeito estufa (menos de 5%). Entretanto, considerando que as iniciativas de manejo de resíduos são realizadas de forma local, sem a respectiva quantificação da mitigação dos gases de efeito estufa, a importância do setor de resíduos para a redução global na emissão desses gases pode estar subestimada.

O professor do departamento de Engenharia Sanitária da Universidade de Minas Gerais (UFMG), Gilberto Caldeira, concorda com o grupo do IPCC e diz que as atuais tecnologias de manejo de resíduos podem mitigar as emissões do setor sanitário de maneira efetiva. Essas tecnologias podem reduzir emissões de forma direta (por meio de recuperação e uso do metano em aterros, aperfeiçoamento de práticas de gerenciamento nos aterros, melhorias no manejo de resíduos líquidos, utilização de biodigestores) ou evitar uma geração significativa de gases (por meio de compostagem controlada de resíduos orgânicos, por exemplo). Adicionalmente, a redução da geração de resíduos, a reciclagem e o reuso têm relevância para a redução indireta de emissões de gases de efeito estufa.

“O manejo adequado dos resíduos, com destaque para o seu elevado valor energético, pode contribuir, além da redução de emissões, para a promoção do desenvolvimento sustentável. No Brasil, levantamento realizado pelo IBGE, no ano de 2000, demonstrou que apenas uma pequena parcela dos municípios destina adequadamente os resíduos gerados, o que demanda a adoção de políticas e práticas adequadas”, explica o diretor de Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Silvano Silvério Costa.

Ele diz ainda que é importante enfatizar o papel duplamente estratégico que o aproveitamento energético de resíduos representa em termos de mitigação de Gases de Efeito Estufa – GEE, tanto do ponto de vista de sua significância, como fonte alternativa de energia, quanto no âmbito de uma política de gestão de resíduos, por consistir a destinação ambientalmente adequada numa medida direta de redução de emissões. Neste sentido, diretrizes voltadas ao gerenciamento de resíduos, como a reciclagem, o reuso e a minimização da geração, possuem uma relação estreita com uma estratégia de mitigação, já que a diminuição do volume de resíduo a ser disposto implica em redução da possibilidade de emissão de GEE.


Reciclando aterros

Diversos projetos brasileiros de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo obtêm créditos de carbono a partir de aterros sanitários. A decomposição do lixo orgânico tem como subproduto o metano (CH4), o segundo principal gás de efeito estufa, que, apesar de estar na atmosfera em uma quantidade bem menor que o CO2, tem um potencial de aquecimento muito maior, de 21 vezes ao do gás carbônico. Os aterros do Brasil conseguiram emplacar projetos de MDL ao queimar metano, transformando-o em CO2, menos pior para o efeito estufa.

Após o projeto número 1, o Nova Gerar, de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, os aterros Bandeirantes e São João, em São Paulo, também começaram a vender crédito de carbono obtido e também aproveitam para vender energia. Em vez de queimar o CH4, eles alimentam uma mini-usina. Os dois aterros têm capacidade de gerar 20 megawatts por hora, o suficiente para abastecer uma cidade de 200 a 300 mil habitantes.

Somente com as atividades do aterro Bandeirantes já foram feitas duas vendas de créditos de carbono. Em setembro de 2007, ocorreu o primeiro leilão de carbono realizado no Brasil, na Bolsa de Mercadorias & Futuros, e rendeu à Prefeitura de São Paulo quase R$ 35 milhões. O investimento na usina, feito em 2003, foi de R$ 25 milhões.